Empresas exploram vantagens da cloud privada

A consultora Gartner admite que em 2012 o número de implementações de soluções de cloud privada deverá multiplicar-se por 10, à medida que as empresas se apercebem das vantagens do modelo e que as tecnologias se tornam mais maduras

O interesse pelas clouds privadas está a crescer à medida que as empresas se apercebem dos benefícios de optimizar uma infra-estrutura. Mas para muitas este será apenas um passo intermédio na evolução para a cloud pública

A pressão para optimizar recursos e infra-estruturas, sem perder capacidade de suportar o negócio, é um dos principais impulsionadores para implementar soluções de virtualização nos centros de dados, mas também para adoptar modelos de cloud. A actual conjuntura económica é vista por muitos players como uma oportunidade para as empresas racionalizarem e reaproveitarem recursos, disponibilizando-os de forma mais rápida para responder às necessidades do negócio, com menos custos e maior flexibilidade. Estratégias que se ajustam como uma luva ao modelo de cloud computing.

À medida que o conceito amadurece, as empresas e os organismos procuram definir estratégias de implementação, optando por modelos de cloud privada ou pública consoante as suas necessidades, ou conjugando ambas num sistema híbrido, em que parte do workload é feito in-house, entregando a parceiros externos as aplicações menos críticas para o negócio.

Globalmente, o crescimento da adopção de soluções de cloud pública tem sido exponencial, mas algumas limitações legais ou regulamentares, e ainda uma desconfiança persistente quanto aos modelos de partilha de recursos e à segurança da informação, levam muitas companhias, sobretudo as de maior dimensão, a optar por modelos de nuvem privada.

A consultora Gartner admite que em 2012 o número de implementações de soluções de cloud privada deverá multiplicar-se por 10, à medida que as empresas se apercebem das vantagens do modelo e que as tecnologias se tornam mais maduras. Mas em muitos casos este será apenas um passo intermédio para modelos híbridos, nos quais as entidades conjugam o melhor dos dois mundos.

Em Portugal o interesse pela implementação de clouds privadas sente-se claramente por parte das grandes e médias empresas, muitas das quais já avançaram com esse processo, como é o caso da SATA e da Rádio Renascença, que estão a trabalhar com a Microsoft neste sentido, e os players do mercado mostram-se optimistas.

«O modelo de cloud privada está claramente na agenda dos clientes de maior dimensão», sublinha Pedro Canas Ferreira, cloud champion e responsável pela área de inovação da HP Portugal, embora admita que no caso português a materialização desta intenção está a ser afectada pelo enquadramento económico difícil, com as empresas a atrasar os seus investimentos em modernização e transformação das suas infra-estruturas. «O contra-senso é que este comportamento, apesar de compreensível, é o inverso do que deve ser feito. É exactamente nesta situação, em que a trajectória actual é insustentável (por exemplo, com um modelo de IT tradicional, em que 80% dos custos estão normalmente concentrados em manutenção), que temos a oportunidade de agir e implementar modelos, como a cloud, com potencial para alterar as regras do jogo».

Apesar das dificuldades de cash flow, quando as empresas pensam em renovação tecnológica, já não colocam em cima da mesa a aquisição de hardware, considerando antes uma solução com virtualização e automação através de um modelo de cloud privada, explica Arlindo Dias, IT architect da IBM Portugal. Este interesse é «contínuo e irreversível. Ter uma infra-estrutura sem virtualização e automação já não faz sentido», justifica.

No caso das empresas de maior dimensão, a aposta numa cloud privada surge também como forma de aproveitar os investimentos já realizados em tecnologias de informação, que estão muitas vezes subutilizados. E o investimento adicional para esta transformação pode nem ser muito significativo.

Jaime Martins, principal da Reditus Consulting, afirma que mais do que revelarem apenas interesse as empresas e os organismos portugueses já passaram para a fase de implementação de clouds privadas, e por isso defende: «Mesmo sem ter dados reais, julgo estarmos à frente de muitos países da economia ocidental.» A pressão para a optimização de custo (por via da eficiência energética, da redução de necessidades de hardware e da optimização da capacidade computacional instalada) e para o aumento da agilidade e a nossa menor escala têm alterado a utilização de clouds privadas, passando de um “nice to have” para um “must have”.

Mesmo à escala da economia portuguesa, e da dimensão das empresas nacionais, também Vítor Batista partilha desta visão e garante que «a realidade demonstra muito mais do que o mero interesse, pois as nossas organizações são exemplares na implementação destas tecnologias».

«Na EMC Portugal sentimos que cada vez mais organizações procuram activamente por soluções de cloud privada e este facto reflecte-se na implementação de mais soluções baseadas em virtualização, de forma a construírem as suas cloud privadas», sublinha o EMEA senior development manager da EMC.

Seja nas suas próprias instalações ou num datacenter externo, em modelo de virtual private cloud, este é um facto que parece assentar na perfeição a muitas empresas, mas que deixa de lado alguns dos benefícios que a cloud pode trazer às empresas, sobretudo em termos de escala e de elasticidade, conceitos difíceis de concretizar quando todos os recursos são pagos pelo mesmo cliente. Rui Franco, director da REN Telecom, é um dos players contactados pelo Semana que acredita que a evolução se fará pelo modelo público, ou pela conjugação de ambos numa nuvem híbrida. «Entendemos que à medida que haja mais clarificação sobre o modelo de oferta cloud em geral mais os clientes vão migrar directamente para o modelo public. Neste sentido, o modelo private é transitório e não nos parece que tenha tendência a crescer», sublinha o responsável pela empresa que disponibiliza serviços de datacenter em Lisboa e no Porto.

Uma questão de dimensão?

Cinco passos para se preparar 1 – Construa um modelo de negócio Faça a ligação entre as principais iniciativas e os objectivos do negócio e consiga apoio dos líderes da empresa e principais stakeholders. Estabeleça um calendário para o projecto e faça uma estimativa realista de custos e requisitos.
2 – Desenvolva a estratégia Alinhe a análise com a estratégia de negócio e mostre que pode trazer valor à empresa. Não esconda que a adopção da cloud pode levar a mudanças que afectam o ambiente do negócio e trabalhe com as principais áreas para identificar necessidades.
3 – Avalie o estado de preparação da empresa Identifique os requisitos de pessoas, o orçamento e a tecnologia para preparar o negócio. Crie uma framework de análise para o custo total de propriedade (TCO) e reveja as políticas de avaliação de risco e governance.
4 – Realize um piloto ou protótipo Identifique um grupo ou uma área onde pode realizar um projecto-piloto, ou um protótipo. Desenvolva e comunique os requisitos de forma detalhada e acompanhe a realização do piloto, comunicando os resultados obtidos.
5 – Consiga aprovação Depois de analisar o estado de preparação da empresa e de avaliar os resultados do piloto, deve rever a estratégia e o modelo de negócio de acordo com os resultados. Apresente-os aos stakeholders e aos líderes de negócio para conseguir a sua aprovação.

À semelhança do que a Gartner indica, em muitos casos as empresas começam o caminho para as soluções de cloud desenvolvendo nuvens internamente, de forma controlada, e optimizando as suas infra-estruturas mais rapidamente através das tecnologias que os fabricantes e as software houses criam à volta deste conceito. Só depois iniciam um processo de transformação e de externacionalização de serviços, que em muito casos exige uma adaptação da própria organização, sobretudo a nível de processos.

Mas é tudo uma questão de escala, e este percurso é feito sobretudo pelas grandes empresas, enquanto as companhias de menor dimensão, com equipas de TI mais pequenas e infra-estruturas mais reduzidas em termos de hardware, acabam por aderir de forma mais rápida a modelos públicos.

«Para um número crescente de empresas, a jornada para a computação na cloud começa com uma implementação de private cloud construída em tecnologias Microsoft Windows Server e System Center», explica Luís Carvalho, responsável pelo negócio de servidores e ferramentas de desenvolvimento na Microsoft Portugal. Mas «existem organizações mais pequenas que não querem estar preocupadas com a aquisição e operação de uma infra-estrutura e que avançam directamente para cenários de cloud pública. Os seus modelos de negócio e estruturas leves facilitam muito o processo de transformação», adianta.

Os modelos híbridos surgem como uma solução natural, em que o cliente aloca as suas aplicações pelas várias plataformas segundo critérios como criticidade para o negócio, confidencialidade da informação gerida e necessidade de escalamento. José Pedro Abreu, director da Unidade de Negócio Datacenter & Continuity Services da Mainroad, defende que os fornecedores de serviços devem garantir aos clientes uma oferta end-to-end. «Fornecedores de TI como a Mainroad têm vindo a preparar a sua oferta de cloud – Trusted Cloud – para que seja o mais abrangente possível, indo para além das grandes empresas e estendendo-se também a PME. A par dos serviços de cloud pública, a empresa disponibiliza modelos de clouds privadas nos seus datacenters, para conseguir «garantir uma oferta end-to-end robusta, de alto desempenho e altamente segura».

Transição possível
No limite todos os serviços de uma empresa poderiam ser migrados para a cloud pública? José Pinto acredita que sim. «É nossa convicção de que essa será a evolução natural», defende o business and strategic account consulting director da Fujitsu Technology Solutions, lembrando o que aconteceu no início do século passado com os sistemas de fornecimento de energia, em que as empresas abandonaram os sistemas de geração de energia in-house, socorrendo-se da cloud, ou seja fornecedores públicos de energia.

Mas há ainda um caminho a percorrer. «Iremos assistir a uma passagem gradual de sistemas ditos menos críticos para a cloud, e com a verificação da sua exequibilidade, outros sistemas serão migrados», defende, antecipando que ficarão in house sistemas proprietários em mainframes cuja migração para o modelo de cloud pode não se justificar financeiramente.

Apesar de coincidir com uma visão a longo prazo na qual as cloud públicas e ou as virtual private clouds serão preponderantes, Francisco Guerra, data center product sales specialist da Cisco, lembra que «ainda é cedo para assumir que é esse um destino comum».

«Cada cliente é um caso específico. Se para muitos a cloud privada é um caminho, para outros a cloud privada poderá ser mesmo o destino final por inúmeras razões diferentes, que podem passar por legislação aplicável, segurança, modelos de negócio que privilegiam o capex em detrimento de opex, entre outras», justifica o especialista da Cisco.

A segurança é sempre uma das questões mais delicadas nesta avaliação, sobretudo em relação a aplicações críticas para o negócio, pelo que existe a necessidade de estabelecer standards e regras comuns que simplifiquem a migração entre modelos e que tragam maior confiança ao mercado. No entanto, António Bento, director-geral da Novell Portugal, acredita que «neste momento já existem providers e tecnologia para que esta migração possa acontecer. Não é claramente um problema tecnológico, mas sim um problema político».

José Ferraz, solutions strategist da CA Technologies, lembra também que há ainda condicionantes legais sobre a movimentação e localização de dados, que diferem de país para país e que podem ser um factor de limitação na evolução para as clouds públicas. Mais assertivo, Jaime Martins, principal da Reditus Consulting, assegura que se afirmasse que o futuro seria a “cloudificação” generalizada estaria a cometer um desvio tão grande como o que se verificou quando há 20 anos se disse que o COBOL iria desaparecer. «Com toda a certeza, nunca vai haver uma migração de todos os serviços e dados para public clouds. Mesmo assumindo que num futuro próximo as public clouds disponibilizarão serviços seguros, mais rápidos e mais baratos, existirão sempre organizações que não vão prescindir da sua privacidade, nem que seja porque a public cloud não é, nem nunca vai ser, um fato à medida, necessidade esta que na generalidade das organizações existe, e tem que existir, principalmente em sistemas/informação próximos do negócio, em que o nível de comoditização é menor», lembra.

via Semana Informática.

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